As turfeiras

As turfeiras são acumulações de turfa em depressões à superfície com uma profundidade mínima de 30 a 40 cm (Fig. 1). A turfa é um material negro constituído por uma mistura de restos de matéria orgânica vegetal não decomposta, ou parcialmente decomposta, e minerais. A proporção entre estes dois componentes pode ser bastante variável; no entanto, a quantidade de matéria orgânica é normalmente superior à existente na maioria dos solos.

As turfeiras formam-se em locais onde a água se acumula ou flui lentamente e onde existe uma diversidade de plantas características, com destaque para certas espécies de musgos, juncos e arbustos (esq. A). A existência de condições ambientais predominantemente ácidas e anaeróbicas (deficientes em oxigénio), faz com que essas plantas não se decomponham totalmente. Os restos vegetais não decompostos misturam-se com minerais resultantes da alteração das rochas, originando a turfa. À medida que se acumula, a turfa retém água, criando condições cada vez mais húmidas. Nas turfeiras em pleno desenvolvimento, a turfa acumula-se a uma taxa de cerca de um milímetro por ano.

A maioria das turfeiras existentes nas zonas de latitude média a elevadas do hemisfério norte formaram-se depois do final da última glaciação, que ocorreu há cerca de 11 700 anos. Posteriormente, com o aquecimento generalizado da Terra, as turfeiras passaram a formar-se preferencialmente a altitudes elevadas.

A turfa acumulada numa turfeira constitui um registo mais ou menos contínuo de sedimentos, vegetação, pólenes, esporos, animais e mesmo restos arqueológicos depositados no lugar ou transportados, principalmente pelo vento, de áreas circundantes. Constitui assim um ‘arquivo’ no qual a conservação destes elementos permite interpretar, em cada nível da turfeira, a história do desenvolvimento do ecossistema estabelecido na área. Este ‘arquivo’ também fornece preciosas informação acerca das condições e mudanças ambientais ocorridas principalmente nos últimos 10.000 anos (Holocénico).

As turfeiras são também uma das maiores reservas terrestres de carbono (C). A matéria orgânica vegetal é constituída em grande parte por carbono que é retirado do dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, quando as plantas realizam a fotossíntese. Quando essas plantas morrem, os seus restos ficam ‘aprisionados’ na turfa sob condições anaeróbicas húmidas que impedem a sua completa decomposição e consequente libertação do carbono. Uma vez ‘sequestrado’ na turfa, o carbono pode ficar retido durante milénios.

As turfeiras podem influenciar igualmente a regulação microclimática ao promover a formação de orvalho, geada e neblina. Por outro lado, existe um fluxo de quantidades significativas dos gases CO2, metano (CH4), sulfito de hidrogénio (H2S) e óxido de azoto (N2O) entre a turfa e a atmosfera.

A turfa é um importante recurso energético, utilizado como combustível doméstico em diversas partes do mundo. Tal como outros combustíveis fósseis, a turfa não é uma fonte renovável de energia uma vez que a sua taxa de extração excede, em muito, a sua lenta taxa de acumulação de cerca de 1mm por ano.

As Turfeiras das Chãs de Arga perfazem uma área de 591 hectares e compreendem a Chã Grande (Fig. 2), o Chão das Sizedas e a Chã de S. João, onde se situa a nascente do Rio Âncora. Estas turfeiras fazem parte de um conjunto denominado ‘turfeiras atlânticas das montanhas do Noroeste Ibérico’. As mais antigas ter-se-ão formado há cerca de 10.000 anos mas muitas apresentam idade inferior que pode chegar aos 2000 – 3000 anos.

A interpretação de perfis de prospeção geofísica com georadar realizados na Arga Grande permitiu compreender com algum rigor a estratigrafia da turfeira (esq. B). A sua espessura média é de aproximadamente 1 m, com espessura mais reduzida nas suas orlas e, pontualmente uma espessura que pode atingir os 2 metros.

Datações em minerais e a análise de pólenes conservados na turfa da Chã Grande forneceram informações sobre a evolução do clima do Noroeste Ibérico durante parte significativa da época geológica em que vivemos: o Holocénico (últimos 11.700 anos) (esq. C).

No início do Holocénico, o clima era mais frio, predominando a vegetação herbácea. Árvores e arbustos apenas existiam em locais mais protegidos. À medida que a temperatura foi aumentando, registou-se um desenvolvimento arbustos e de árvores, com destaque para as de folha caduca da espécie Quercus robur (carvalho alvarinho). As formações arbustivas desenvolveram-se predominantemente nas áreas mais elevadas. Durante a Média Idade do Bronze, teve lugar uma diversificação arbustiva devido à intensificação da agricultura e da pastorícia, com diminuição do Quercus robur e aumento de outra flora como o Asphodelus (abróteas).

Nos últimos 500 anos ocorreram uma série de mudanças ligadas a um processo de humanização da paisagem. Durante o século XVI, teve início uma forte regressão arbórea, em particular do Quercus robur e de Corylus avellana (aveleira), ao mesmo tempo que se deu o aumento de diversas espécies de urze e gramíneas. Admite-se que esta circunstância esteja relacionada com o desmatamento resultante da exploração maciça da floresta decorrente do desenvolvimento de estaleiros navais nas áreas costeiras de Caminha e Viana do Castelo. No final do século XVI e durante o século XVII, registou-se um aumento do pinheiro, refletindo a intensificação das plantações florestais. Em tempos mais recentes, verifica-se uma diminuição do pinheiro e um aumento acentuado de gramíneas e de eucaliptos.

As turfeiras são acumulações de turfa em depressões à superfície com uma profundidade mínima de 30 a 40 cm (Fig. 1). A turfa é um material negro constituído por uma mistura de restos de matéria orgânica vegetal não decomposta, ou parcialmente decomposta, e minerais. A proporção entre estes dois componentes pode ser bastante variável; no entanto, a quantidade de matéria orgânica é normalmente superior à existente na maioria dos solos.

As turfeiras formam-se em locais onde a água se acumula ou flui lentamente e onde existe uma diversidade de plantas características, com destaque para certas espécies de musgos, juncos e arbustos (esq. A). A existência de condições ambientais predominantemente ácidas e anaeróbicas (deficientes em oxigénio), faz com que essas plantas não se decomponham totalmente. Os restos vegetais não decompostos misturam-se com minerais resultantes da alteração das rochas, originando a turfa. À medida que se acumula, a turfa retém água, criando condições cada vez mais húmidas. Nas turfeiras em pleno desenvolvimento, a turfa acumula-se a uma taxa de cerca de um milímetro por ano.

A maioria das turfeiras existentes nas zonas de latitude média a elevadas do hemisfério norte formaram-se depois do final da última glaciação, que ocorreu há cerca de 11 700 anos. Posteriormente, com o aquecimento generalizado da Terra, as turfeiras passaram a formar-se preferencialmente a altitudes elevadas.

A turfa acumulada numa turfeira constitui um registo mais ou menos contínuo de sedimentos, vegetação, pólenes, esporos, animais e mesmo restos arqueológicos depositados no lugar ou transportados, principalmente pelo vento, de áreas circundantes. Constitui assim um ‘arquivo’ no qual a conservação destes elementos permite interpretar, em cada nível da turfeira, a história do desenvolvimento do ecossistema estabelecido na área. Este ‘arquivo’ também fornece preciosas informação acerca das condições e mudanças ambientais ocorridas principalmente nos últimos 10.000 anos (Holocénico).

As turfeiras são também uma das maiores reservas terrestres de carbono (C). A matéria orgânica vegetal é constituída em grande parte por carbono que é retirado do dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, quando as plantas realizam a fotossíntese. Quando essas plantas morrem, os seus restos ficam ‘aprisionados’ na turfa sob condições anaeróbicas húmidas que impedem a sua completa decomposição e consequente libertação do carbono. Uma vez ‘sequestrado’ na turfa, o carbono pode ficar retido durante milénios.

As turfeiras podem influenciar igualmente a regulação microclimática ao promover a formação de orvalho, geada e neblina. Por outro lado, existe um fluxo de quantidades significativas dos gases CO2, metano (CH4), sulfito de hidrogénio (H2S) e óxido de azoto (N2O) entre a turfa e a atmosfera.

A turfa é um importante recurso energético, utilizado como combustível doméstico em diversas partes do mundo. Tal como outros combustíveis fósseis, a turfa não é uma fonte renovável de energia uma vez que a sua taxa de extração excede, em muito, a sua lenta taxa de acumulação de cerca de 1mm por ano.

As Turfeiras das Chãs de Arga perfazem uma área de 591 hectares e compreendem a Chã Grande (Fig. 2), o Chão das Sizedas e a Chã de S. João, onde se situa a nascente do Rio Âncora. Estas turfeiras fazem parte de um conjunto denominado ‘turfeiras atlânticas das montanhas do Noroeste Ibérico’. As mais antigas ter-se-ão formado há cerca de 10.000 anos mas muitas apresentam idade inferior que pode chegar aos 2000 – 3000 anos.

A interpretação de perfis de prospeção geofísica com georadar realizados na Arga Grande permitiu compreender com algum rigor a estratigrafia da turfeira (esq. B). A sua espessura média é de aproximadamente 1 m, com espessura mais reduzida nas suas orlas e, pontualmente uma espessura que pode atingir os 2 metros.

Datações em minerais e a análise de pólenes conservados na turfa da Chã Grande forneceram informações sobre a evolução do clima do Noroeste Ibérico durante parte significativa da época geológica em que vivemos: o Holocénico (últimos 11.700 anos) (esq. C).

No início do Holocénico, o clima era mais frio, predominando a vegetação herbácea. Árvores e arbustos apenas existiam em locais mais protegidos. À medida que a temperatura foi aumentando, registou-se um desenvolvimento arbustos e de árvores, com destaque para as de folha caduca da espécie Quercus robur (carvalho alvarinho). As formações arbustivas desenvolveram-se predominantemente nas áreas mais elevadas. Durante a Média Idade do Bronze, teve lugar uma diversificação arbustiva devido à intensificação da agricultura e da pastorícia, com diminuição do Quercus robur e aumento de outra flora como o Asphodelus (abróteas).

Nos últimos 500 anos ocorreram uma série de mudanças ligadas a um processo de humanização da paisagem. Durante o século XVI, teve início uma forte regressão arbórea, em particular do Quercus robur e de Corylus avellana (aveleira), ao mesmo tempo que se deu o aumento de diversas espécies de urze e gramíneas. Admite-se que esta circunstância esteja relacionada com o desmatamento resultante da exploração maciça da floresta decorrente do desenvolvimento de estaleiros navais nas áreas costeiras de Caminha e Viana do Castelo. No final do século XVI e durante o século XVII, registou-se um aumento do pinheiro, refletindo a intensificação das plantações florestais. Em tempos mais recentes, verifica-se uma diminuição do pinheiro e um aumento acentuado de gramíneas e de eucaliptos.

Localização

Sra. do Minho, Montaria

Coordenadas

Lat: 41,7979396

Long: -8,6908504

Legenda
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